A notícia colhe-nos como um soco no
estômago.
Rapidamente, aprendemos o labirinto de
corredores, guichets, escadarias e andares;
aprendemos os rituais de análises,
resultados, tratamentos, consultas.
Ouvimos conversas de doenças,
limitações, cada desgraça maior do que a outra; tentamos encontrar
em nós uma sintonia de Amor, de Paz, qualquer coisa que possa ajudar
a quem amamos...um pensamento de Luz, um sorriso de confiança...lemos
livros, revistas, fazemos poemas de Acreditar.
E esperamos.
Esperamos que o tratamento acabe.
Esperamos que tudo corra pelo melhor.
Esperamos um milagre que sabemos não
ir acontecer. Mas esperamos.
Olhamos o rosto dos que amamos. Parece
mais pálido...ou amarelo ou vermelho...parece cansado/a... não
comeu... está triste... tem febre... e esperamos.
Porque não o/a obriguei a ver disto
mais cedo? Porque é que eu não disse? Porque é que eu não fiz?
E esperamos.
Às vezes, torna-se tudo tão pesado.
Choramos. Passamos a outro a tarefa de acompanhar, quando há outros,
e paramos para nos fortalecermos outra vez.
Depois, há aquele momento em que o
médico nos chama. A sós. Não há mais nada a fazer. Quer que fique
aqui ou em casa? Levo-a/o para casa, claro! Estaremos juntos/as até
podermos. Pense bem, olhe que é muito duro, alertam-nos; E é! O
banho é uma tarefa quase impossível, a distância do quarto à
cozinha torna-se imensa... todos os gestos por mais breves e normais
se tornam um pesadelo... ainda assim, há momentos em que rimos até
às lágrimas, e tudo parece normal. Cimentamos cumplicidades,
fortalecemos o nosso coração. E Amamos mais e mais.
Rapidamente tudo se degrada e torna
cada vez mais penoso; olhamos uns pelos outros, cuidamos das coisas,
aquelas coisas práticas de que alguém tem de tratar...cuidamos dos
outros, os que ficarão orfãos ou viúvos ou...
Que nome se dá a quem perde um irmão?