Quem lá esteve, viveu um daqueles serões mágicos do Intensidez.
O António veio do Ribatejo para partilhar connosco.
O Eduardo Raposo veio de Lisboa, respondendo à chamada.
Aceitou um jantar familiar na rua das laranjeiras e rasgou um sorriso no rosto quando lhe apresentei o sofá onde dormiria.
“não te preocupes”-disse – “dormirei muito bem”.
Comemos caldo verde, com a primeira couve que fui colher ao jardim que transformámos em horta, e carne assada no forno.
E bebemos vinho tinto, recordando a noite de 30 de Dezembro, em que os três antecipámos uma passagem de ano de poemas e canções até às oito da manhã.
As horas voaram. Queria sair cedo para estacionar e tranquilamente arranjar lugar.
À pressa, um bilhete deixado na mesa, junto ao prato de T., que vinha de viagem e chegaria só às dez.
Quando chegámos ao Bibliocafé, vi várias caras conhecidas, quase amigas, diria, os colegas de curso, o Sr.Professor que costuma ir para lá trabalhar…e muita gente nova e bonita.
O que aconteceu naquele serão, foi pura poesia.
A casa estava cheia. Cheia de música, de beleza, de conversas entre amigos, de sorrisos, de gente linda.
Viajámos realmente pelo cancioneiro alentejano e fomos arrebatados pelas vozes e pelas guitarras.
É possível vestir o cancioneiro com uma roupagem diferente, mas igualmente digna. É importante mostrar-se que o Cante não é um fóssil, podendo e devendo revestir-se de outras formas, levando assim um cada vez maior número de jovens a ouvir e despertar em si memórias –raízes do que somos.
Em todos os tempos, os temas das canções são inspirados nas mesmas fontes: o amor, o trabalho, os sonhos, a terra…
“olha a noiva se vai linda”, “tenho no quintal um limoeiro”, “rouxinol repenica o cante”, “um sobreiro velhinho”.E as pessoas, especialmente os jovens, espreitando, tentando perceber que som era aquele que o João fazia na guitarra…
Naquela noite, convergiu-se. E o que vi foi três músicos realmente dando o melhor de si e um público atento saboreando palavras e música e devolvendo uma energia quase palpável que se agigantava e nos retornava em música, criando cumplicidades.
Foi muito bonito. Tão bonito como o sorriso da Ana e do Davide, no final da noite.
T.C.
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